
A arquitetura tem o poder de transformar não apenas cidades, mas também vidas. No entanto, por trás de linhas retas, ângulos rígidos e estruturas grandiosas, podem existir histórias marcadas por obsessão, segredos e dilemas humanos. É nesse cruzamento entre arte e poder que se desenrola O Brutalista, filme de Brady Corbet que mistura drama, política e reflexões existenciais em uma narrativa de fôlego.
A Jornada de um Imigrante em O Brutalista
A trama acompanha László Toth, interpretado por Adrien Brody, um arquiteto judeu que sobreviveu aos horrores da Segunda Guerra Mundial e decide reconstruir sua vida nos Estados Unidos. Ao lado da esposa, Erzsébet, ele carrega não apenas os traumas do passado, mas também o desejo de criar algo duradouro, capaz de resistir ao tempo.
Logo ao chegar, László é contratado por Harrison Lee Van Buren, magnata vivido por Guy Pearce. O milionário enxerga no arquiteto um talento raro e oferece a ele a oportunidade de erguer obras marcadas pelo estilo brutalista, que valoriza o concreto aparente, a funcionalidade e a solidez. No entanto, conforme o trabalho avança, o que parecia ser apenas um desafio artístico se transforma em um mergulho em dilemas morais e escolhas de vida irreversíveis.
Assim, o filme revela não apenas a ascensão de um homem guiado pela arte, mas também os conflitos internos que surgem quando a ambição encontra barreiras éticas e pessoais.
O Brutalismo como Símbolo
Não por acaso, o título do longa carrega uma forte metáfora. O estilo arquitetônico brutalista, marcado pela dureza visual e pela grandiosidade, funciona como reflexo da jornada do protagonista. Cada prédio erguido é uma extensão de seus medos, de sua dor e de sua esperança de deixar algo eterno em um mundo frágil.
Nesse sentido, o filme de Brady Corbet não fala apenas de arquitetura, mas também da luta pela sobrevivência em meio às cicatrizes da guerra e ao peso das expectativas sociais. O concreto cru das construções representa tanto força quanto isolamento, revelando como arte e vida se confundem ao longo da narrativa.
Performances Intensas
Adrien Brody entrega uma de suas atuações mais impactantes desde O Pianista. Sua interpretação de László transita entre a fragilidade de um sobrevivente e a obstinação de um criador visionário. Cada olhar e cada gesto comunicam o peso de uma existência marcada por perdas, mas também pela busca incessante de sentido.
Ao seu lado, Felicity Jones dá vida à esposa Erzsébet, que representa o elo entre passado e futuro. Sua personagem oferece humanidade ao protagonista, mas também expõe as tensões entre amor, sacrifício e ambição. Já Guy Pearce encarna o papel do magnata Van Buren com intensidade, equilibrando charme e manipulação em uma performance que amplia o clima de mistério e poder.
Com esse trio central, o filme mantém o público preso às relações humanas, mesmo em meio à grandiosidade arquitetônica.

Estética e Direção de Brady Corbet
Brady Corbet é conhecido por ousar em narrativas densas, e em O Brutalista não foi diferente. A direção aposta em longos planos contemplativos, que exploram tanto a imponência das construções quanto o silêncio dos personagens. Cada enquadramento parece cuidadosamente planejado, como se fosse parte de um projeto arquitetônico.
A fotografia, por sua vez, reforça a atmosfera de melancolia e grandiosidade. Cores frias e contrastes marcados criam a sensação de distanciamento, enquanto a trilha sonora acompanha o tom solene e introspectivo da narrativa. Dessa forma, a estética do filme não apenas acompanha a história, mas também a intensifica, transformando cada cena em uma experiência sensorial.
Entre o Pessoal e o Político
Além da trajetória pessoal de László, o filme expõe as tensões políticas e sociais do período pós-guerra. A relação entre arte e poder é constantemente questionada: até que ponto a arquitetura pode ser apenas estética quando está a serviço de interesses econômicos ou ideológicos?
Essa dualidade torna O Brutalista uma obra que ultrapassa os limites do drama biográfico. Ele convida o público a refletir sobre como o poder molda a arte e como a arte, por sua vez, influencia a sociedade. Assim, o longa estabelece um diálogo entre passado e presente, lembrando que dilemas éticos atravessam gerações.
Um Filme que Marca
Embora seja um filme denso e contemplativo, O Brutalista não deixa de ser emocionante. Sua força está em unir elementos visuais grandiosos a conflitos humanos universais, como a busca por reconhecimento, o peso do passado e o confronto entre ética e ambição.
Ao final, o espectador percebe que não se trata apenas de um retrato sobre arquitetura, mas de uma reflexão profunda sobre memória, sobrevivência e legado. Cada construção erguida por László carrega algo dele próprio e, de certa forma, também de todos que enfrentaram a destruição para reconstruir suas vidas.
Conclusão
O Brutalista é um filme para quem aprecia narrativas densas, performances intensas e reflexões que permanecem após os créditos finais. Ao unir drama humano, questões políticas e estética grandiosa, o longa se consagra como uma das obras mais impactantes do cinema recente.
E você, já está preparado para mergulhar nesse universo de concreto, dor e ambição? Assista a O Brutalista e descubra como a arte pode tanto libertar quanto aprisionar.
Confira ainda:
Assim como em Ainda Estou Aqui, onde a luta pela sobrevivência se mistura com memórias que não podem ser esquecidas, O Brutalista também explora como o passado influencia cada escolha no presente.
Além disso, em Dias Perfeitos, vemos como desejos e sacrifícios pessoais moldam relações e caminhos, refletindo os dilemas que surgem em histórias de transformação intensa.
